Travessias: o legado dos refugiados do nazifascismo, Brasil, 1933-2018.

Data de Início: 01/01/2018

Natureza do Projeto: Pesquisa

Situação do Projeto: Em andamento

Ementa: A partir de um inventário de fontes inéditas e testemunhos de sobreviventes pretende-se reconstituir as histórias de vida dos refugiados do nazifascismo que, a partir de 1933, optaram por viver temporariamente ou definitivamente no Brasil. Tais personagens, vítimas da violência e de atos genocidas praticados pela Alemanha e países colaboracionistas, foram classificados de “raça inferior” e, como tais, perderem seus direitos e, como apátridas, foram forçados a emigrar. Além das fontes orais, serão valorizadas as obras de arte e literárias como expressão de seus estranhamentos, possibilitando identificar distintas formas de denúncia contra o racismo e um possível engajamento nos movimentos de resistência antifascistas. No país de acolhimento, no caso o Brasil, tiveram dificuldades para retomar suas vidas, pois nem sempre dispunham de documentação para exercer sua profissão de formação, além de vivenciar estranhamentos diante do novo, como domínio do idioma, ausência de apoio institucional e de interlocutores culturais. Em muitas situações, pela dimensão do trauma e da dor guardadas por estes personagens, o silêncio se impôs sobre a necessidade crucial de narrar, exigindo por parte do pesquisador a busca por arquivos e fontes complementares. Serão priorizados intelectuais, cientistas e artistas (pintores, desenhistas, escultores, gravuristas, atores, diretores e cenógrafos de teatro, cineastas, fotógrafos, arquitetos). Objetivos: (i) reconstituir as trajetórias de vida dos refugiados do nazifascismo radicados no Brasil a partir de 1933 em busca do seu legado para a cultura e a ciência brasileiras; (ii) identificar suas obras e analisar a recepção dessa produção (artística, intelectual e científica) em busca do reconhecimento desse legado apoiando-nos em demandas por mais justiça social; (iii) recuperar as ações humanitárias daqueles que ajudaram a salvar as suas vidas e dos seus familiares e que, de alguma forma, colaboraram para a inserção social dos refugiados do nazifascismo na comunidade brasileira; (iv) analisar a situação vivenciada por estes sujeitos apátridas e judeus que, sem condições do restabelecimento dos seus direitos, foram forçados a emigrar; (v) alimentar a Base de Dados Arqshoah (www.arqshoah.com) com a documentação selecionada durante a execução do projeto, disponibilizando por meio digital as histórias de vida e obras produzidas por este grupo de refugiados que buscaram refúgio no Brasil. Em síntese: (i) colaborar para a construção da verdade histórica em detrimento da ideologia do esquecimento e do negacionismo que ronda a história da Shoah; (ii) destacar a relevância das relações e das interlocuções acadêmicas estabelecidas entre História, memória, cultura, traumas e exílio ou, em outras palavras, os modos de ver, ler e interpretar as representações deixadas por este grupo de refugiados e sobreviventes do Holocausto. Divulgação dos resultados: (i) publicar, no formato de verbetes, o primeiro Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro estruturado a partir da formulação do inventário sistemático do legado deixado pelos refugiados do nazifascismo radicados no Brasil, priorizando os verbetes sobre intelectuais, artistas e cientistas; (ii) produção de material pedagógico a ser exibido nos museus, escolas, centros culturais e livros paradidáticos, divulgando as histórias de vida dos refugiados do nazifascismo radicados no Brasil e o seu legado para as artes, a ciência e a literatura brasileiras.